terça-feira, 24 de março de 2009

Moradores do parque Cocaia I paralisam avenida no Grajaú

Cerca de 250 pessoas obstruíram a Av. Belmira Marim, no Grajaú; moradores cobram ações da Prefeitura e denunciam cheque-despejo

por Jonathan Constantino, no sítio internet do jornal Brasil de Fato
de São Paulo (SP)


Por volta das 10 horas da manhã desta terça-feira (24), cerca de 250 moradores do Parque Cocaia I paralisaram a Avenida Belmira Marim, a principal via da região do Grajaú, no extremo Sul da capital paulista. Os protestos duraram cerca de uma hora. A via foi obstruída por barricadas e houve queima de objetos.

De acordo com lideranças comunitárias, um batalhão da Polícia Militar esteve no local, e o sargento que comandava a ação foi bastante truculento. Não houve confronto, mas foram feitas diversas ameaças para coagir os manifestantes. Após o término da mobilização, os manifestantes seguiram em passeata até a comunidade, que é ao lado da avenida.

Falta de diálogo

Maria Gorete Barbosa, líder comunitária, disse que o objetivo da mobilização era chamar a atenção das autoridades municipal e estadual para buscar um canal de negociação a respeito dos despejos que estão sendo efetuados na região. “Os moradores reivindicam moradia”, disse Maria Gorete. De acordo com ela, há moradores que residem na região há mais de 30 anos. O local possui asfalto, energia elétrica, escola próxima, comércios e, em alguns pontos, rede de esgoto. A Prefeitura, porém, não se propõe a dialogar com a comunidade para encontrar uma solução, restringindo-se a oferecer um cheque-despejo.

“O que dá para fazer com esse dinheiro? Nada, dá no máximo para comprar um barraco em outra favela, na beira de um córrego”, indigna-se.

A Prefeitura não se propõe a dialogar com os moradores e não expõe com transparência seus objetivos, denuncia Gorete. De acordo com a líder, após o carnaval uma equipe foi ao local e fez o cadastro das famílias que moram na região. Os agentes disseram aos moradores que o objetivo era propor melhorias nas condições de vida da população. Em 5 de março, porém, a população local descobriu que o cadastro era uma preparação para o despejo e tinha o objetivo de levantar o nome das pessoas que receberiam o cheque.

Luís*, uma das lideranças da mobilização, salientou que como grande parte das casas é de alvenaria, o valor do cheque-despejo não permite aos moradores se organizarem em outro local, com as mesmas condições. Disse, também, que a Prefeitura não tem um projeto de realocação dessas pessoas.

Segundo Gorete, os moradores que já saíram de suas casas estão fazendo o que podem para se realocar. Alguns foram para a casa de parentes, outros compraram passagens e estão voltando para sua terra de origem. “O que eles querem [a Prefeitura], é deixar a gente num lugar pior do que já está?”, questiona.

O ato desta manhã é parte da resistência dos moradores. De acordo Luís*, cerca de 2 mil famílias moram no Parque Cocaia I. Destas, 250 estão sendo atingidas de imediato.

Luís salienta que, até 2012, o projeto irá interferir em mais 80 comunidades da região. Mas, de acordo com o documento do projeto, não há uma estimativa exata do número de pessoas que serão afetadas. Os dados apontados no documento também são muito imprecisos. “Para você ter ideia, no projeto ao qual tivemos acesso não estava previsto o despejo de nenhuma pessoa onde foram despejasdas essas famílias agora”, conclui

Histórico

Iniciados em 16 de março, os despejos no Parque Cocaia I são parte da execução do Projeto Mananciais, cujo objetivos seriam melhorar as condições dos reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo e desenvolver políticas adequadas para a gestão das bacias hidrográficas.

Após o carnaval, um grupo designado pela Prefeitura visitou a comunidade e fez a demarcação das casas que precisariam ser despejadas. Em 5 de março, foi realizada uma reunião com a comunidade, que foi comunicada do despejo e aos moradores foram entregues os cheques nominais (cheques-despejo).

“De início, o valor do cheque era R$ 5,8 mil, mas os moradores não aceitaram”, disse. A líder acrescentou ainda que após a recusa dos moradores, a equipe do Consórcio Santa Bárbara que conduzia as negociações, disse que abriria mão de parte do dinheiro a ser recebido pela execução da obra a fim de que se somasse mais R$ 3 mil a quantia destinada a cada família.

A partir da data dessa reunião, os moradores foram comunicados que teriam 10 dias para abandonar suas casas.


link para versão original:

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/moradores-do-parque-cocaia-i-paralisam-avenida-no-grajau

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